ATA DA PRIMEIRA SESSÃO
SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA,
EM 09.03.1999.
Aos nove dias do mês de
março do ano de mil novecentos e noventa e nove reuniu-se, no Plenário Otávio
Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às
dezessete horas e trinta e dois minutos, constatada a existência de “quorum”, o
Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a
homenagear o Dia Internacional da Mulher, nos termos do Requerimento nº 01/99
(Processo nº 04/99), de autoria da Vereadora Clênia Maranhão. Compuseram a
MESA: o Vereador Nereu D'Ávila, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre;
a Desembargadora Maria Berenice Dias, Presidenta da "Jus Mulher" e
representante do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul; a Senhora
Vânia Araújo Machado, representante do Senhor Governador do Estado; a Senhora
Margarete Nunes, representante do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; a
Senhora Maria Amália Martini, Presidenta da Federação das Mulheres Gaúchas; o
Coronel Irani Siqueira, representante do Comando Militar do Sul; a Capitã Ana
Maria Haas, representante do Comando-Geral da Brigada Militar; a Vereadora
Clênia Maranhão, Secretária "ad hoc". A seguir, o Senhor Presidente
convidou a todos para, em pé, ouvirem à execução do Hino Nacional e, após,
concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. A Vereadora
Clênia Maranhão, como proponente da solenidade, salientou ser o Dia
Internacional da Mulher um momento para a reflexão sobre o papel da mulher na
sociedade moderna, bem como sobre a sua busca pela integração total nos processos
produtivo, econômico e político. Ainda, leu Requerimento assinado por Sua
Excelência e pelas Vereadoras Sônia Santos, Maristela Maffei, Helena Bonumá,
Sonia Saraí e Tereza Franco, propugnando pela intensificação nas investigações
das responsabilidades no caso do homicídio da Deputada Estadual pelo Estado de
Alagoas, Senhora Ceci Cunha. Em continuidade, a Vereadora Clênia Maranhão
procedeu à entrega, ao Senhor Presidente, do Requerimento referido por Sua
Excelência em seu pronunciamento. Também, o Senhor Presidente registrou as
seguintes presenças, como extensão da Mesa: da Senhora Lúcia Paim Guazelli,
representante da Primeira Dama de Canoas, Senhora Dérna Lagranha; da Vereadora
Joanna Vieira da Silva, da cidade de Tapes/RS; da Vereadora Benedita Cecatto,
da cidade de Vila Flores/RS; da Senhora Isar Xausa, viúva do ex-Vereador
Leônidas Xausa e conselheira da Sociedade Latinoamericana de Logoterapia; da
Senhora Maria do Horto Martins, representante da Associação dos Amigos da Casa
de Cultura Mário Quintana; da Senhora Judite Nascimento, representante do
Instituto da Mama do Rio Grande do Sul; da Senhora Amarilis Mesquita,
representante da União Metropolitana dos Estudantes Secundários de Porto Alegre
- UMESPA; da Senhora Odila Vasconcelos, representante da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul - FAPERGS, entidade vinculada à
Associação Rio-Grandense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão
Rural - EMATER; da Senhora Marlete Mazzo, Coordenadora dos Direitos Humanos e
Cidadania da Prefeitura de Porto Alegre; da Senhora Leila Weber, representante
da Associação Riograndense de Imprensa; da Senhora Ceci Iara da Rocha,
representante do Senhor Secretário de Obras Públicas, Saneamento e Habitação do
Estado; da Senhora Eufrásia Kovalski, representante do Movimento da Mulher; da
Senhora Jussara Praxedes da Silva, representante do Conselho-Geral de Clubes de
Mães do Rio Grande do Sul; de representantes de Clubes de Mães do Município.
Após, o Senhor Presidente registrou a presença do Deputado Estadual Cézar
Busatto, convidando Sua Excelência a integrar a Mesa dos trabalhos. Em
continuidade, o Vereador Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB,
discorreu a respeito da condição social e política na qual estão inseridas as
mulheres da sociedade contemporânea, analisando aspectos relativos à luta dos
movimentos feministas contra o preconceito e a discriminação. Também, procedeu
à leitura de poema de autoria de Luiz Coronel, acerca das mulheres gaúchas. Na
ocasião, o Senhor Presidente registrou a presença do Senhor Israel Lapchick,
Presidente do Conselho dos Cidadãos Honorários de Porto Alegre. Após, a Vereadora
Sônia Santos, em nome da Bancada do PTB, destacou os avanços obtidos pelas
mulheres no que se refere à sua inserção no quadro de representação política
brasileira, mencionando legislação sobre reserva de vagas para mulheres dentro
dos partidos políticos. Ainda, manifestou-se acerca de aspectos culturais
relativos à valorização da mulher na sociedade e leu poesia intitulada
"Limites", de autoria da Poetisa Adélia Prado. O Vereador Isaac
Ainhorn, em nome da Bancada do PDT, saudou o Dia Internacional da Mulher, tecendo
considerações a respeito da evolução das relações humanas e do papel
sociológico da mulher ao longo da história. Comentou dados da busca feminina
por espaço político e profissional e pelo reconhecimento da sua contribuição
para o desenvolvimento da sociedade moderna. O Vereador João Carlos Nedel, em
nome das Bancadas do PPB e do PFL, destacou a justeza da presente homenagem,
mencionando a figura de diversas personalidades do universo feminino que
obtiveram expressão dentro da história. Ainda, discorreu sobre a evolução do
papel da mulher no contexto social e a aquisição de novos direitos e
responsabilidades decorrente deste processo. Na ocasião, o Senhor Presidente
registrou a presença da Museóloga Mirian Arruch. A seguir, a Vereadora Sonia
Saraí, em nome da Bancada do PMDB, ressaltou a importância do Dia Internacional
da Mulher, como um marco na luta contra o preconceito e o descaso da sociedade
para com a violência praticada contra as mulheres. Discorreu a respeito do
Requerimento hoje encaminhado pela Vereadora Clênia Maranhão, solicitando a
agilização das investigações do assassinato da Deputada Ceci Cunha. A Vereadora
Maristela Maffei, em nome das Bancadas do PT e do PPS, salientou a necessidade
de um maior respeito às diversidades existentes na sociedade atual, de maneira
a proporcionar uma melhor convivência em comunidade e o aumento na qualidade de
vida da população. Ainda, propugnou pela adoção de medidas públicas destinadas
a eliminar as discriminações sociais, os preconceitos e a violência doméstica
das quais são vítimas as mulheres. A Vereadora Helena Bonumá, em nome da
Bancada do PSB, analisou as causas sociológicas geradoras do fenômeno da
violência contra a mulher e os fatores condicionantes das desigualdades
observadas nas condições de emprego e salário de homens e mulheres, mencionando
dispositivos constitucionais que garantem a igualdade de direitos e deveres
entre todos os cidadãos. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra à
Desembargadora Maria Berenice Dias e à Senhora Vânia Araújo Machado, que
destacaram o significado do registro do Dia Internacional da Mulher, como
momento de conscientização e busca de soluções para os problemas enfrentados
pelas mulheres na sociedade atual. Após, o Senhor Presidente convidou os
presentes para, em pé, ouvirem à execução do Hino Rio-grandense e, nada mais
havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezenove horas e
dezessete minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de
amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Nereu
D'Ávila e secretariados pela Vereadora Clênia Maranhão, como Secretária
"ad hoc". Do que eu, Clênia Maranhão, Secretária "ad hoc",
determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e
aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Nereu D’Ávila): Saudamos os presentes na abertura dos
trabalhos desta Sessão Solene, que é a primeira do ano, e é destinada a
homenagear o Dia Internacional da Mulher. Foi uma solicitação da Vera. Clênia
Maranhão e proposição da Mesa Diretora da Câmara Municipal.
Chamamos as seguintes personalidades para compor à Mesa:
Presidente da Jus Mulher e representante do Tribunal de Justiça do
Estado, Desembargadora Maria Berenice Dias; representante do Senhor Governador
do Estado, Sra. Vânia Araújo Machado; representante do Senhor Prefeito
Municipal, Sra. Margarete Nunes; representante da Federação das Mulheres
Gaúchas, Sra. Maria Amália Martini; representante do Comando Militar do Sul,
Coronel Irani Siqueira e representante do Comando-Geral da Brigada Militar,
Capitã Ana Maria Hass.
Passamos à execução do Hino Nacional.
(É executado o Hino Nacional.)
Antes de ouvirmos a primeira oradora da tarde, desejo em nome do Poder
Legislativo da Mesa Diretora, trazer a todas as mulheres presentes, a todas as
senhoras, a todas, enfim, que comparecem nesta tarde à Câmara Municipal, e que
seja levada aos familiares, aos conhecidos - a todas enfim - a nossa homenagem,
o nosso carinho, a nossa solidariedade como homens ao Dia Internacional da
Mulher. Eu ontem, estive num debate, aliás mais de um, mas especialmente em um
deles ouvi algumas mulheres que se pronunciavam a respeito da data e achei
importante uma que referiu que nós, na nossa natureza humana, somos distinguidos
por sexo, mas evidentemente somos da mesma natureza humana. Então, eu considero
- é uma opinião apenas, respeitando evidentemente as manifestações contrárias -
que nós vivemos solidariamente em conjunto. O Dia Internacional da Mulher
também é estendido a nós, homens, porque nós somos companheiros, parceiros,
maridos, ou seja o que for, mas devemos estar solidários. Acho que não há uma
unidade apenas.
E dizia hoje de tarde também, acolhendo aqui o Conselho dos Cidadãos
Honorários de Porto Alegre - que é o conjunto daqueles todos que receberam o
título de Cidadão Emérito, ou Cidadão de Porto Alegre, por solicitação de um ou
outro Vereador e aprovado pelo conjunto da Casa -, e eu dizia que nós temos que
ter como meta aumentar o espaço das nossas companheiras, da mulher. Lutar junto
com elas, e elas junto conosco, e eliminar para sempre aqueles ranços já
ultrapassados, de um machismo superado, e aquelas frases que ficam arraigadas,
tidas como verdades, mas que, na verdade, são absolutamente discriminatórias,
como, por exemplo, que atrás de um grande homem sempre tem uma grande mulher.
Essa é uma discriminação em forma de gracejo inoportuno. As mulheres estão ao
nosso lado, assim como nós estamos ao lado delas. E temos que continuar ao lado
delas. Por isso, no Dia Internacional da Mulher, nós temos muita participação,
e esta é a mensagem que gostaria de deixar em nome da Casa, da Presidência da
Casa, homenageando e acolhendo carinhosamente a todas as mulheres que aqui se
encontram.
Oferecemos a palavra à solicitante desta Sessão Solene, nobre Vera.
Clênia Maranhão, Líder do PMDB.
A SRA. CLÊNIA MARANHÃO: Exmo. Sr. Presidente da
Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Nereu D’Ávila; Sra. Presidente do Jus
Mulher, representante neste ato do Tribunal de Justiça do Estado, Exma. Sra.
Desembargadora Maria Berenice Dias; representante do Exmo. Sr. Governador do
Estado, Sra. Vânia Araújo Machado; representante do Exmo. Sr. Prefeito
Municipal, Sra. Margarete Nunes; Presidente da Federação das Mulheres Gaúchas, Sra.
Maria Amália Martini; representante do Comando Militar do Sul, Coronel Irani
Siqueira; representante do Comando-Geral da Brigada Militar, Capitã Ana Maria
Haas; representantes do movimento de mulheres, das entidades femininas, das
entidades da sociedade civil, mulheres militantes das causas das mulheres,
sociais e políticas em nosso Estado; nossa saudação especial a todas as
mulheres Vereadoras desta Casa.
Sras. Vereadoras e Srs. Vereadores, este ato se origina de uma lei que
define que todos os anos a Câmara Municipal de Porto Alegre deve realizar uma
Sessão Solene em homenagem às mulheres.
Nós queremos, nesta data, fazer desta Sessão um espaço de articulação
entre todas as pessoas que lutam, que lutaram e que, seguramente, procurarão
seguir lutando por uma sociedade mais justa e igualitária, mais justa do ponto
de vista econômico, mais humana, onde todas as pessoas possam se integrar no
processo produtivo, político e social. Mas, fundamentalmente, uma sociedade
igualitária em que as diferenças entre homens e mulheres possam ser preservadas
sem que essas diferenças sejam base de ações discriminatórias.
Nós vivemos em uma época, numa sociedade absolutamente atomizada, onde
as grandes políticas mundiais têm garantido, através de um processo enorme de
globalização, a possibilidade do acesso à informação e de um desenvolvimento
tecnológico, de uma rapidez nunca vista na história da humanidade.
O nosso desafio, portanto, não é mais o do acesso às informações, é
exatamente o de uma seleção e de uma compreensão de para quem essas informações
são passadas e até que ponto elas podem contribuir na construção de uma
sociedade solidária.
Estive há alguns meses, representando a Casa, num congresso
internacional de mulheres, que aconteceu em Saint Denis, na França, onde as
mulheres de 120 países tomaram uma decisão, que quero repartir com vocês, nesse
dia que tem que ser, também, um dia de reflexão dos nossos destinos, dos
destinos da sociedade, pela qual devemos lutar. Decidimos que tinha que estar
presente em todos os nossos atos, em todas nossas lutas a certeza de que, em
contrapartida a uma sociedade que priorizava, fundamentalmente, a integração de
setores minoritários do ponto de vista econômico, que globaliza uma tecnologia
onde reparte o lucro para tão poucos, havia um caminho que deveria ser a
contrapartida dessa globalização, dessa mundialização das finanças: era o
caminho da solidariedade humana. E nós concluímos que as mulheres têm a
possibilidade, ao longo de suas vidas, de desenvolver o lado solidário de todos
os seres humanos, homens e mulheres, exatamente por terem, do ponto de vista
biológico, a condição de exercitar, seguramente, a maior experiência de
solidariedade: a maternidade; do ponto de vista dos espaços profissionais, elas
estão nos segmentos profissionais onde a solidariedade é a marca das atuações,
como por exemplo, as profissões da área da saúde, assistência, e da área do
trabalho; do ponto de vista da militância política, estão nas áreas da luta por
uma política ambiental, por uma política de defesa do consumidor, por uma
política do bem estar social. Esses são os espaços que as mulheres têm ocupado,
do ponto de vista numérico e do ponto de vista da qualidade das atuações, com
tanto vigor. Seguramente, somos nós, mulheres, que temos a possibilidade de
construir a rede da solidariedade necessária para o resgate de alguns valores
que são universais, que devem ser sempre dos homens e das mulheres, mas que
estão, pela história da humanidade e pelo destino que temos trilhado, afetos a
nós, mulheres.
Portanto, eu queria, neste 8 de março, nesta Sessão Solene, com a
presença de tantas mulheres, trazer o desafio que nós nos colocamos no
Congresso Mundial da Mulheres FEDIM, que é fazermos de todas as nossas ações
uma ação solidária. E eu acho que para nós, mulheres brasileiras, essa palavra
de orientação, essa consigna tem um peso especial, uma importância fundamental
na construção do país que queremos, que não pode ser um país tão rico do ponto
de vista das suas riquezas naturais, das suas riquezas minerais, mas tão pobre
do ponto de vista da sua população. Então, nós, as mulheres que lutamos pelo
desenvolvimento, nós, as mulheres que lutamos pelo progresso, que lutamos pelo
desenvolvimento tecnológico, temos que colocar a questão da solidariedade como
ingrediente fundamental para que essa tecnologia não seja acumulativa e
excludente.
E eu queria dizer a vocês que foram muitas as manifestações desse oito
de março. As companheiras e as autoridades que estão na Mesa, as que estão no
Plenário, todas sabem que em Porto Alegre, neste ano, não foi possível estarmos
presentes em tantas atividades que aconteceram na Cidade. E eu queria dizer, eu
que sou uma velha feminista, ao lado da Vera. Helena Bonumá, assim como todas
as companheiras desta Casa, a companheira Vera. Sonia Saraí, a companheira
Vera. Maristela Maffei, Vera. Sônia Santos, Vera. Tereza Franco - não sei se
citei todas as companheiras presentes, porque neste momento somos tomadas pela
emoção - que nós, que temos essa antiga luta das mulheres, ao lado de tantas
mulheres militantes que ocupam este Plenário no dia de hoje, fomos
surpreendidas pela multiplicação de ações, de debates, de atos, de
manifestações no dia oito de março e durante este mês inteiro em que se
prorroga o Dia Internacional da Mulher. E isso acontece porque essa bandeira da
luta pela igualdade de oportunidade e de direito das mulheres, felizmente,
deixou de ser uma luta das pequenas instituições, dos pequenos grupos de
mulheres, para ser uma luta que começa a ser positivamente apropriada pela
sociedade. Eu quero acreditar que se a sociedade se apropriou dessa data,
fazendo tantas homenagens, encaminhando tantas lutas, é porque o sentimento
solidário que estava na base da luta das mulheres pela igualdade quanto à
exclusão, pela oportunidade, começa a sair dos corações das mulheres que
vanguardiaram esse movimento, para ocupar o coração da sociedade.
Mas, infelizmente, nem tudo são flores e conquistas, apesar de tantas
que tivemos ao longo deste século e, principalmente, na sua última metade. Recentemente,
o Brasil ficou estarrecido diante de uma violência. E quantas e quantas são as
violências que acontecem na vida das mulheres: as violências físicas, as
violências psicológicas, as violências sexuais! Essas violências afetam uma
parcela significativa das mulheres. Neste ato, peço licença para ler uma carta
que quero passar às mãos ao Presidente da Câmara, Ver. Nereu D’Ávila. Esta
carta é uma proposta construída coletivamente, por todas as Vereadoras, que
estamos neste ato vestindo preto, e que diz o seguinte: (Lê.)
“Sr. Presidente, em 16 de dezembro passado, o assassinato da Deputada
Ceci Cunha e de três de seus familiares, estarreceu todos os brasileiros. No
dia três de fevereiro, o principal suspeito dessa chacina assumiu a cadeira de
Deputado, que pertencia à Deputada Ceci Cunha, e da qual ele era suplente. As
investigações, desde o início, têm demonstrado fortes indícios de que o Sr.
Talvane e seus assessores sejam os responsáveis pelo crime. Passados quase três
meses dos assassinatos, o crime continua impune. A impunidade constitui-se,
também, como arma poderosa para aqueles que violam os direitos humanos e os
direitos das mulheres. É necessária a punição imediata dos culpados para que se
faça justiça e para que a sociedade possa avançar na luta pela superação dos
procedimentos e das práticas que vitimam as mulheres.
Diante dessa realidade, as Vereadoras de todos os Partidos,
representantes desta Casa, presentes nesta Sessão Solene alusiva ao Dia
Internacional da Mulher, apresentam a V. Exa. a solicitação de que seja
encaminhado ao Plenário desta Casa Legislativa a votação de uma correspondência
que, sendo aprovada, deverá ser encaminhada ao Presidente do Senado Federal, ao
Presidente da Câmara dos Deputados e ao Presidente do Poder Judiciário, com a
posição oficial deste Parlamento, pedindo que sejam envidados todos os esforços
no sentido da punição imediata dos culpados. Nossa preocupação em afirmarmos a
posição deste Legislativo porto-alegrense é porque conhecemos a força da
pressão, dos acompanhamentos das instituições e da sociedade em crimes como
este. Os estudos dos processos dos julgamentos em nosso País, quando a vítima é
mulher, nos têm demonstrado as grandes possibilidades de os valores de uma
sociedade violenta e patriarcal permear os trâmites e as práticas, muitas vezes
de forma quase invisível, mas diminuindo o drama de quem foi vitimada ou
reduzindo o significado trágico de um assassinato. Consideramos indispensável
esse encaminhamento para que o fantasma da impunidade seja afastado de uma vez
por todas da vida das mulheres e para que, enfim, a sociedade compreenda o
direito das mulheres como a parte indivisível dos direitos humanos.”
Todas as Vereadoras presentes assinaram este manifesto; ele é nosso
para o Sr. Presidente. (Palmas.)
(Não revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: Não é necessário dizer que
deferimos o Requerimento da nobre Vereadora, em nome de todas as signatárias, e
que o encaminharemos na primeira oportunidade ao conjunto da Casa, para a
devida apreciação. Está encaminhado o seu Requerimento, que representa
simbolicamente algo muito importante.
A seguir, vou referenciar os nomes de personalidades que são
consideradas extensão da Mesa, porque é como se na Mesa estivessem: Sra. Lúcia
Paim Guazelli, representando a primeira dama de Canoas, Sra. Dérna Lagranha;
Vera. Joanna Vieira da Silva, de Tapes; Vera. Benedita Cecatto, de Vila Flores;
Sra. Isar Xausa, viúva do ex-Vereador - sempre Vereador - Leônidas Xausa e
conselheira da Sociedade Latinoamericana de Logoterapia; Sra. Maria do Horto
Martins, representando a Associação dos Amigos da Casa de Cultura Mario
Quintana; Sra. Judite Nascimento, representando o Instituto de Mama do Rio
Grande do Sul; Sra. Amarilis Mesquita, representando a União Metropolitana de
Estudantes Secundários de Porto Alegre; Sra. Odila Vasconcelos, representando a
Fundação FAPERGS, da EMATER; Sra. Marlete Mazzo, Coordenadora dos Direitos
Humanos e Cidadania da Prefeitura de Porto Alegre; Jornalista Leila Weber,
representando a Associação Rio-grandense de Imprensa; Sra. Ceci Iara da Rocha,
representando o Secretário de Obras Públicas, Saneamento e Habitação do Estado;
nosso nobre colega Ver. Pedro Ruas; Sra. Eufrásia Kovalski, representando o
Movimento da Mulher; Sra. Jussara Praxedes da Silva, representando o
Conselho-Geral de Clube de Mães do Rio Grande do Sul.
Saúdo todas as representantes dos clubes de mães que estão presentes
aqui.
Recebemos, neste instante, o nobre do Deputado Cézar Busatto, a quem
saudamos e convidamos para participar da Mesa.
O Ver. Cláudio Sebenelo está com a palavra, representando o PSDB.
O SR. CLAUDIO SEBENELO: (Saúda os presentes.) Ilma.
Sra. Sonia Saraí; Ilma. Sra. Maristela Maffei; Ilma. Sra. Helena Bonumá; Ilma.
Sra. Tereza Franco; Ilma. Sra. Sônia Santos; e, especialmente, Ilma. Sra.
Clênia Maranhão, autora desta festa e, talvez, a grande expressão em nossa
Câmara, desempenhando não só o papel de Vereadora, mas também como Presidente
da Federação das Mulheres.
Se eu pudesse pôr um título nessa pequena alocução que vou fazer, eu
chamaria de “O Acréscimo”.
Muito tem-se falado sobre a questão maior da mulher: o feminismo; sobre
os espaços público e privado e o imenso desafio que a mulher contemporânea, sem
ter o dom da ubiqüidade, decide ocupar - todos eles - em busca do impossível,
tendo, além de tudo, que enfrentar o preconceito, a discriminação, sem tempo
para se adaptar, submetendo-se a muitos impactos, passando de feudal enfeite
caseiro a agente político de uma sociedade contemporânea num repente, para a
qual se tornou imprescindível. Imprescindível porque, à medida em que ganha o
espaço público, vai acrescentando ao seu meio ambiente o que há de mais raro, o
mais precioso conteúdo que pode uma sociedade dispor: a ética. O processo ético
de um povo é avaliado pelas condições de comportamento, pelo avanço da moral
nos juízos de valor, tanto jurídicos, quanto filosóficos ou sociais, mas,
também, pela estabilidade e fortaleza de suas instituições. Na época dos
Talvanes e Hildebrandos, as mulheres oferecem a ética.
É indiscutível este acréscimo. De onde a mulher retira elementos para
fornecê-los, a todo o momento, nutrindo os diversos compartimentos que convive?
De onde vem a força de uma nova postura, de um novo código, de um novo contrato
a ser seguido, inclusive didaticamente para as futuras gerações?
Busca-o, indiscutivelmente, no exercício da troca e comunicação a que
se obrigou, no auge do patriarcado, com incursões pela dupla mensagem, pela
sutileza das alianças, pela complexidade do subjetivo, pelo decifrar da entrelinha.
Tudo que o meio exige para a continência de uma vida.
Como diz Luiz Coronel:
“As mulheres de minha terra / Guardam diversa estampa / Enxada nos
ombros, na Serra / Guardam rebanhos, no pampa.
Os homens nos entreveros, /
Pencas e reboliços. / Elas, a mesa posta. / A casa de seus ofícios.
As mulheres da minha terra / Ante o sonho e a solidão / Levam o passado
às costas / E os filhos, pela mão.”
É a voz do poeta como seqüela de uma visão feudal de mulher, esta nova
mulher que vai à luta, até à luta de boxe, que invade os esportes. São
taxistas, militares, caminhoneiras, intelectuais, da melhor qualidade. Vão
conquistando os escaninhos, sem a monárquica necessidade dos palácios, sem a
deformada visão exclusivista, mas entendendo o momento de união de sexos, de
tarefas, de proposta para o mundo futuro, partilhado por todos.
E, quando a meia-lua hoje sair e a noite estiver já longe, eu e minha
mulher (e digo minha mulher da forma mais possessiva possível, não de uma
coisa, mas de uma grandeza) formos um só, confessarei a ela a apropriação
indébita que fiz no fim de uma conferência sua. Ela é quem escreve: é a
comunhão do pensamento do homem, mulher e família, qualquer família. Em suas
últimas linhas, como psicóloga terapeuta, ela diz: (Lê.) “Outra faceta dolorosa
se evidencia no olhar banhado de inquietação e perplexidade de jovens em
terapia, na faixa de 25 a 30 anos, com sucesso profissional e com o registro
interno do vínculo homem/mulher mutilado, como as amazonas da lenda que
cortavam o seio direito para facilitar o manejo do arco.”
Por isso, a história é longeva. Não há pressa. Para ela, a história,
cinqüenta anos não são nada. Para cada um de nós é uma vida, a nossa vida.
Precisamos ser o sujeito dela. As teorias, os modelos e as regras são significativos
e nos enriquecem quando nós os manejamos e não quando eles nos manejam”. Que as
mulheres de minha aldeia, de minha terra, as “Anas Terras”, as “Anitas
Garibaldis”, todas as heroínas, mas também a mulher comum, pensem dessa forma.
Esse é o acréscimo. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Queria registrar a presença
do Sr. Israel Lapchick, Presidente do Conselho de Cidadãos de Porto Alegre.
Gostaria de registrar também a presença dos Vereadores Pedro Américo Leal,
Lauro Hagemann, Guilherme Barbosa e da Vera. Tereza Franco, a nossa querida
“Nega Diaba”.
A Vera. Sônia Santos está com a palavra, pela Bancada do PTB.
A SRA. SÔNIA SANTOS: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) “Meu pai dormia
em cama, minha mãe no pisador. O homem nasceu antes e a mulher veio depois. É
por isso que a mulher trabalha sempre pelos dois.” Caetano Veloso.
Desde que nascemos, ouvimos falar da luta da mulher por espaço no
mercado de trabalho, da luta da mulher por igualdade de tratamento, igualdade
de salários, a luta da mulher por ver reconhecida a sua importância e seu
trabalho. A despeito de tanta luta, ao longo de tanto tempo, desigualdades
ainda persistem.
Todos nós sabemos o que aconteceu às mulheres que, no dia de hoje, há
142 anos, empreendiam uma luta; ao longo de tantos anos, diante de tantas
lutas, muitas vidas foram perdidas, vidas conhecidas, vidas anônimas. E, mesmo
quando vidas não são perdidas, há muitas marcas, muita mutilação, muita dor.
Todos nós sabemos que houve muitas conquistas, muitas mudanças. Mas
todas nós temos certeza de que há ainda muita conquista a haver e muito mais
mudanças devem ocorrer.
Hoje nós estamos numa Casa Legislativa, uma Casa Legislativa ímpar, uma
Casa onde a legislação afirmativa chamada “Lei das Cotas” aconteceu. Eu sou
fruto da “Lei das Cotas”; aquela Lei que mulheres, como a Vera. Clênia Maranhão
estando na China, voltaram com o propósito de chegarem ao Brasil e fazer com
que mudanças acontecessem aqui, fazer com que mulheres fossem chamadas a
participar de forma mais ativa na política, e muitas mulheres se candidataram,
muitas mulheres se elegeram. Hoje nesta Casa Legislativa temos 20% de
participação feminina, temos sete Vereadoras no total de trinta e três.
Nós sabemos que é importante haver leis, não só leis como esta que
referi, mas leis que punam, leis que façam justiça, leis que façam que seja
finda tanta violência contra a mulher.
Todas nós, parlamentares, trajamos negro, chamando a atenção para a
violência que ainda ocorre. Todas nós levantamos a nossa voz, clamando por
justiça. Mas muito mais do que leis temos que criar uma cultura de valorização
da mulher. Temos que criar essa cultura em nossos filhos, em nossas filhas
desde a base. Nós que somos mães, educadoras, propagadoras, formadoras de
opinião, temos que empreender essa luta, porque a luta continua. Essa luta fez,
faz e sempre fará parte de nossas vidas.
Adélia Prado tem uma poesia chamada “Limites” em que ela diz:
“Uma noite me dei conta / de que possuía uma história / contínua /
desde o meu nascimento / indesligável de mim.”
Muito obrigada. (Palmas.)
(Não revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: O Ver. Isaac Ainhorn está
com a palavra pela Bancada do PDT.
O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e
demais presentes.) Bem afirmou a Vera. Clênia Maranhão quando disse que esta
Casa anualmente destina um espaço especial para prestar a sua homenagem ao Dia
Internacional da Mulher. Algumas vezes se usa dizer de uma forma muito
carinhosa - e a solidariedade e o carinho devem ser presentes no cotidiano das
nossas relações - que o Dia das Mulheres é todos os dias. Mas o Dia
Internacional da Mulher marca a luta da mulher como característica da sua luta
por espaços e por reconhecimento, a partir da condição de que, do ponto de
vista sociológico, a mulher ainda se constitui, dentro dessa ótica, como uma
minoria, assim como são os negros, porque são discriminados, são espoliados,
são desrespeitados na sua cidadania, no seu cotidiano.
Mas vivemos numa época muito especial. Nós somos extremamente
privilegiados conquanto acredito que vivemos numa época das maiores
transformações que já se operaram na história da humanidade. Nenhum período é
tão rico em transformações, em mudanças, como é o período que nós estamos tendo
o privilégio de viver; as grandes transformações tecnológicas, as grandes
inovações, as grandes descobertas científicas que mudaram a face da história
humana na área da energia, das comunicações, das artes, dos conhecimentos.
Durante milhares de anos, até sessenta anos atrás, os textos eram manuscritos.
A máquina de escrever já operou uma profunda transformação. Hoje estamos na era
da informática, desta velocidade extraordinária. No campo dos avanços sociais nenhum
período pode ser comparado a este, nas conquistas, nas lutas, nos espaços que a
mulher conquistou. No período medieval, há pouco mais de quinhentos anos, as
mulheres eram queimadas em praça pública por defenderem concepções e teorias,
assim como aqueles que se aventuravam a dizer algo que não estava dentro dos
padrões, dos dogmas. Estes eram também perseguidos, discriminados, degredados e
assassinados. Vivemos numa época de profundas modificações, de profundas
alterações sociais!
Há pouco mais de trinta anos, minha cara Desembargadora, a mulher
casada era considerada, sob o ponto de vista da lei civil, como relativamente
incapaz. Às vezes fica muito difícil explicar aos nossos filhos alguns
conceitos jurídicos em relação à condição da mulher. Assistimos, neste momento,
a uma minissérie que é extremamente importante e reveladora das discriminações
que a mulher brasileira, no século passado, vivia, na figura legendária de
Chiquinha Gonzaga. É um símbolo das discriminações, do desrespeito, do
sofrimento, das humilhações a que se submetia, praticamente em todos os
espaços, a mulher, sobretudo a mulher separada; aí a discriminação era
terrível!
Vivemos num período extremamente privilegiado, num período
de grandes mudanças. Mas, infelizmente, Sr. Presidente, apesar das grandes
mudanças, a cada dois minutos, em nosso País, uma mulher é espancada. Esse é o
triste dado da estatística nacional, a ponto de se ter que fazer um código
específico de violência contra a mulher.
Não vou me estender às fronteiras de países em que a mulher
é totalmente discriminada, desrespeitada e colocada não no segundo plano, mas
no terceiro, quarto ou quinto plano. As discriminações estão ainda muito
presentes em nosso mundo, até sob o rótulo de democracias socialistas, entre
aspas, países que se dizem avançados e que têm as mulheres num plano totalmente
secundário, na Ásia e na África. Esse é o quotidiano, apesar de todos os
avanços e de todos os espaços. É por isso que apenas tenho uma pequena
divergência, porque este também é um momento de reflexões em que nós, homens e
mulheres, discutimos a condição, neste momento, da mulher.
Eu observo que as minhas colegas Vereadoras são hoje em
número significativo, pelo espaço social que elas conquistaram, fruto da sua
capacidade, de seu conhecimento e da liderança que vêm conquistando, não
propriamente tanto por uma lei de cima para baixo, minha querida Vera. Sônia
Santos, que estabeleceu a quota de participação de mulheres. Elas ocupam um
espaço, a meu juízo, seja na atividade do Poder Legislativo, Executivo ou
Judiciário.
Eu recordo da minha colega, minha contemporânea de
faculdade, Maria Berenice Dias, quando fez o concurso para a Magistratura. Hoje
as mulheres, nos últimos concursos realizados para a Magistratura, na primeira
instância, têm sido a maioria. Pois é a mulher revelando a sua capacidade de
concentração, a sua qualificação e aprimoramento, porque é mais dedicada e
concentrada nos estudos, sobrepujando muitas vezes os homens.
O Poder Judiciário é um exemplo dos avanços. Hoje, com a unificação do
Tribunal de Alçada com o Tribunal de Justiça em nosso Estado, o número de
mulheres é altamente significativo, com espaços conquistados pelo conhecimento,
pelo exercício da cidadania. Isso se expressa, também, na presença deste número
tão significativo de mulheres ocupando as tribunas desta Câmara Municipal.
Depois de 1946, na primeira legislatura, apenas uma mulher se fez
presente como Vereadora. Hoje, temos mais de 20% de mulheres com representação
nesta Casa.
Por isso, Sr. Presidente, a palavra dos trabalhistas nesta Casa,
daqueles que quando construíram seu ideário colocaram algumas prioridades e,
dentre elas, recordo de um encontro realizado na Cidade de Lisboa entre
trabalhistas do Brasil e do exílio, onde colocávamos como fundamento maior do nosso
programa, do nosso ideário como lutas fundamentais, ao lado da luta em defesa
do povo negro, a luta em defesa da mulher, contra sua discriminação.
Por isso, a importância da nossa participação neste ato de
reconhecimento, de ocupação de espaços, na luta pela igualdade, pela liberdade,
na luta contra a discriminação, contra a opressão, sobretudo contra qualquer
espécie de discriminação que estabeleça diferenças. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O Ver. João Carlos Nedel está
com a palavra, para falar em nome das Bancadas do PPB e PFL.
O SR. JOÃO CARLOS NEDEL: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores. ( Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Sra. Gladis
Monteiro, Mãe do Ano de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, pertencente ao
Clube de Mães Amizade, e que ostenta com muito orgulho o maior título que uma
pessoa pode alcançar: Mãe; Sra. Isar Xausa, mulher que tanto tem contribuído
para a causa da construção de um mundo melhor; Sra. Irmã Genoveva,
representante da Casa Provincial das Irmãs de São José, que no ano passado foi
homenageada por esta Casa; Sra. Benedita Cecatto, colega Vereadora de Vila
Flores; Senhoras representantes de Entidades e Clubes de Mães, imprensa,
Senhoras e Senhores. É com muita honra que, em nome do Partido Progressista
Brasileiro, cuja Bancada também é composta pelo ilustre Ver. Pedro Américo
Leal, aqui presente, e também pelo ilustre Ver. João Dib, e ainda, com muita
honra, falando em nome do Partido da Frente Liberal, do Ver. Reginaldo Pujol.
Algumas das pessoas mais importantes em minha vida foram ou são
mulheres. Lembro-me, neste momento, da minha mãe, da minha esposa, que há
trinta e quatro anos caminha ao meu lado e, muitas vezes, à minha frente; da
minha sogra, da minha madrasta, da minha filha, das minhas duas netas, da minha
nora, da minha primeira professora, e quantos hoje, aqui, também lembram de sua
primeira professora; da minha secretária que trabalha comigo nesta Casa, das
minhas colegas Vereadoras e, de um modo muito especial, da Nossa Senhora, Mãe
de Jesus, e nossa Mãe.
A lista poderia ser bem maior, se a memória e o tempo me favorecessem.
Mas as referências que fiz, com certeza, honram de sobejo todas as demais, pois
em todas elas encontrei sempre a mesma disponibilidade para doação e o esforço
de superação. Em todas elas percebi sempre a sua preocupação com o bem-estar, a
felicidade e, num plano maior, com o amor. De todas recebi sempre o mesmo
incondicional apoio, nas horas difíceis, e a mesma satisfação compartilhada,
nos momentos de alegria. Curiosamente, as mulheres são sempre, ou quase sempre,
lembradas e louvadas em função de algumas personagens públicas que se
destacaram - num mundo de valoração ao masculino - por alguma ação excepcional,
que as colocou acima da expressiva maioria dos homens. É o caso de Joana D’Arc,
Anita Garibaldi, Madre Teresa de Calcutá, Irmã Nelly e tantas outras. Enquanto
isso, passam despercebidas as heroínas nossas de cada dia. Passam despercebidas
aquelas que realmente constróem e solidificam a família e a sociedade. E,
entretanto, à medida que desempenham novos papéis no contexto social,
conquistam novos direitos, sobrecarregam-se de novas responsabilidades, mas não
se liberam de todos os deveres e compromissos anteriores, aos quais os novos só
fazem pesar mais e mais.
É lugar-comum dizer-se que se deveria acabar com o Dia Internacional da
Mulher, sob o argumento de que todos os dias são inapelavelmente da mulher.
Contraponho-me à idéia, pois, ainda que tenha a mesma convicção, acredito que é
preciso destacar sempre, e cada vez mais fortemente, a presença e a ação da
mulher na construção do mundo em que vivemos. Pessoalmente, entendo que o mundo
é cada vez mais das mulheres, e acredito que o Ver. Pedro Américo Leal concorda
plenamente comigo! E valho-me da idéia para parafrasear um pensamento
positivista, afirmando minha convicção de que o mundo é cada vez mais dominado,
necessariamente, pelas mulheres. Por isso, se todos os dias já são das mulheres
que neles vivem - entretanto, sob o peso da normalidade e de devoção ao homem -
sugiro a adição de um novo dia ao calendário para dedicá-lo inteiramente ao
louvor da mulher. Aumente-se o ano, mas destaque-se a mulher! Que Deus abençoe
sempre as mulheres, sem as quais a vida seria impossível.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Tenho a satisfação de
registrar a presença neste Plenário, da museóloga Mirian Arruch, filha do nosso
saudoso Ver. Aloísio Filho.
A Vera. Sonia Saraí está com a palavra, pela Bancada do PMDB.
A SRA. SONIA SARAÍ: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, agradeço aos Vereadores da Bancada do PMDB por ceder-me este
espaço.
Nesta Sessão Solene as mulheres poderiam estar comemorando uma série de
lutas já conquistadas.
Todos já observaram que as Vereadoras estão aqui vestindo roupas pretas,
em sinal de luto. Sinal esse que seria desnecessário, se a impunidade, o
preconceito e o descaso não fizessem parte de nossa rotina. Quando nos vestimos
de preto, não é somente por um ato simbólico, e não pretendemos somente mostrar
que estamos descontentes com a série de injustiças que presenciamos por aí, mas
para ficar demarcado que esse é um sinal de luto, e essa carta que a Vera.
Clênia Maranhão entregou hoje para o Presidente é uma manifestação desta Casa
diante do assassinato da Deputada Ceci Cunha. Nós resolvemos fazer esse ato
simbólico para registrar que, infelizmente, em nosso País, à beira do ano 2000,
uma deputada é assassinada, muitas mulheres são assassinadas todos os dias,
vítimas de violência dos mais variados tipos, e precisaríamos não de um dia
internacional, mas de uma semana para poder dizer tudo o que acontece com as
mulheres. Precisaríamos também mais uma semana para comemorar todas as
conquistas das mulheres nesta Cidade, em nosso Estado, em nosso País e no
mundo.
Porém temos só um dia e vamos continuar tendo esse dia.
Elenquei alguns registros para fazer neste momento. Um deles é que o
capitalismo, como mestre das injustiças sociais, nos mostra que, apesar de
todas as mulheres serem vítimas da violência, as mulheres negras e as pobres
são as que mais sofrem violência. O capitalismo é tão perverso que até mesmo na
desgraça consegue elencar alguns que vão sofrer mais tragédias do que outros.
Esse é um registro importante a ser feito neste dia.
Outro registro é que nós, as mulheres, já conquistamos muita coisa,
temos muito ainda para conquistar, e vamos entrar o ano 2000 com muita vontade
e sem medo nenhum de conquistar o que ainda temos para conquistar, porque não
queremos só o que temos, queremos tudo o que nos falta e aquilo que temos
direito.
O registro final é o que disse Bob Marley: “O negro é o lixo do mundo.
Imaginem as mulheres negras”.
Gostaria que ficasse claro nos Anais desta Casa que as mulheres negras,
infelizmente, ainda são mais vítimas de violência do que todas as mulheres.
Muito obrigada. (Palmas.)
(Não revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: A Vera. Maristela Maffei
está com a palavra. Falará pelas Bancadas do PT e PPS.
A SRA. MARISTELA MAFFEI: Antes de cumprimentar a
Mesa, gostaria de cumprimentar a organização da Casa pela representação que
temos na Mesa, porque saí daqui representando a Câmara de Vereadores, em nome
do nosso Presidente, com muita honra, e na Assembléia Legislativa era bem
diferente. Parabéns a Casa. Penso que é isso, temos em todos os postos mulheres
brilhantes, sem desmerecer, sem demérito a nenhum homem. Gostaria de deixar
esse registro. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.)
Na verdade, havia elaborado algumas questões, mas penso que há coisas
que são muito maiores do que propriamente uma elaboração. Penso que a Vera.
Clênia Maranhão foi muito feliz em ser proponente deste dia e da forma em que
está sendo feita, do nosso jeito simples, mas do nosso jeito sincero, do nosso
jeito singelo, mas de muito valor. Na história das mulheres, as coisas nunca
foram muito fáceis. Até mesmo, para nós, foi dito que nascemos depois. Até
mesmo, para nós, foi dito que viemos de uma costela. Até mesmo, para nós,
sentir prazer não era permitido, se nós o tivéssemos, poderíamos ser mortas.
Pasmem! Para nós, não havia alma; para nós, não havia voto e para nós, não
havia espaço político. Para nós existia a fogueira, a pedra, assim como a
história de Maria que, quando grávida, ainda bem, José a amava tanto e foi
salva. Pois é, quem sabe esse era um homem que caminhava ao lado de uma mulher?
A História, quando demonstra uma faceta e não demonstra outra, tem uma
leitura; quando nós exercemos o nosso papel e dizemos que queremos tudo, sim,
não queremos passar por cima de ninguém; nós queremos aquilo que era - desde o
início da humanidade - um direito nosso, porque a única diferença que existe,
minhas companheiras, senhoras e senhores, é de gênero, porque nós somos mães
também, mas não no espaço público, não no espaço político, não na constituição
das leis e não também na capacidade de poder discernir aquilo que nós queremos,
porque eu não vim para este mundo apenas para repetir. Eu não quero ser assim.
Procuro ser, na construção desse pensamento que não é apenas meu, uma pessoa
que tenta modificar este mundo, questionar e, não apenas por ser mulher, estar
aqui, mas porque eu quero ser transformadora desta sociedade. E não apenas por
ser mulher, mas porque eu sou e faço parte de um projeto que acredito ser um
projeto que vai modificar esta sociedade, junto com a diversidade que temos,
junto com o contraditório ou diferente, mas sem medo de enfrentar isso. Mas não
basta apenas o discurso, para isso é necessário olhar no espelho e dizer todos
os dias o quanto nós temos que ser resistentes dentro da nossa casa, fora dela,
no espaço político, onde nós estivermos. E é uma luta árdua, porque ela é
constante. Por isso lutar por nossos direitos é tão excitante. E precisamos
continuar na luta para não perdermos aquilo que já foi conquistado pelas nossas
companheiras que já tombaram, que já morreram, que já apanharam por isso, que
já foram presas e até executadas. Porque não bastam leis, é preciso uma
resistência constante de todas nós.
Eu tenho a convicção de que dentro da proposta política, da qual faço
parte, na prática da vida eu posso exercer de uma melhor forma, mas eu não
renuncio a minha companheira, a minha colega ao lado, que tem uma posição de
gênero e que podemo-nos unificar. Não é possível que continuemos nesta
sociedade de uma forma em que somos queridinhas, somos beijadas, ganhamos
flores, mas, na prática, apenas estamos para substituir as velhas estruturas, a
velha hierarquia. Não vamos aceitar desta forma, porque não viemos para o mundo
para exercer desta forma a nossa vida.
Ainda há pouco, lia uma entrevista com uma socióloga que participou de
um congresso no Estados Unidos, na qual ela dizia que a violência doméstica não
deveria ser analisada e encarada como ocorre em nosso País, principalmente. Não
pode haver como se fosse um Estado soberano dentro de uma casa. Não pode haver,
num Estado, uma lei dentro de uma casa que diz que lá ninguém pode botar o
nariz, que ninguém pode discutir. A violência é uma questão do Estado, a
violência é uma questão de polícia, portanto é também na condição da mulher.
Não podemos fechar os olhos e nos omitir perante a violência, porque cada vez
mais casos ocorrem no dia-a-dia. Portanto, é uma responsabilidade de todos, mas
principalmente do Estado, porque é um caso, sim, de polícia.
Não pode passar impune a morte dessa Deputada Federal, a Ceci. Ora, o
que é isso? Nós não podemos fechar os olhos para esta situação. Assim como nós
não podemos aceitar a situação em que vivemos em nosso País, um País que está
sendo levado, na questão econômica, na questão política, a uma vergonha
internacional, porque o nosso País está submetido às ordens do FMI. O nosso
País está de joelhos, e tem um nome que responde por tudo isso. Não adianta,
quem responde pelo nosso País é o Presidente da República. Nós, enquanto
mulheres, hoje temos que cobrar, sabem por quê? Porque quando existe
discriminação no salário, nas questões sociais, nós somos as primeiras a ser
prejudicadas.
Eu termino dizendo que nós não podemos aceitar a impunidade no caso
dessa nossa companheira parlamentar, mas também não podemos aceitar a
violência, a cada dia, em mulheres que são surradas dentro de casa, e que são
abençoadas, às vezes, por tantas instituições. “Porque é assim; é coisa de
casal.” Não é coisa de casal! Assim como a questão econômica neste País é um
problema de toda a sociedade, também é um problema nosso, do dia-a-dia,
denunciar e buscar alternativa. Vivam as mulheres! Viva a sociedade que vai
transformar este País num País melhor, com saúde mental, com saúde integral e
com respeito a todas as alternativas, com os homens que também quiserem estar
ao nosso lado. Muito obrigada.
(Não revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: A Vera. Helena Bonumá está
com a palavra fala em nome do PSB.
A SRA. HELENA BONUMÁ: (Saúda os componentes da
Mesa.) Muito já foi dito hoje à tarde, e eu acho que as intervenções resgataram
um painel muito rico da condição feminina, diversos olhares em relação à nossa
condição feminina na sociedade. Eu quero começar resgatando o gesto e a fala da
Vera. Clênia Maranhão, e a proposta que ela nos fez de que falássemos todas.
Quero fazer uma referência à Mesa desta Casa, através do Presidente Nereu
D’Ávila, que consentiu, e buscamos os mecanismos para que todas nós, hoje,
pudéssemos ter voz nesta Casa, e à proposta da Vera. Clênia Maranhão, para que
viéssemos de preto para marcar a situação de luto que as mulheres parlamentares
vivem no País em relação ao assassinato da Deputada Ceci.
O encaminhamento proposto pela Vereadora dá conta do posicionamento
desta Casa em relação a isto, mas ele só não basta, porque a luta contra a
violência tem que ter várias outras dimensões e várias outras articulações. É
uma luta nossa, do movimento feminista, de longa data. E o movimento feminista
teve o mérito de desnudar que a violência está no cerne da nossa condição de
opressão. Hoje, estamos no oito de março de 1999, na véspera do fim do século,
na véspera de um novo milênio. E quando formos falar deste século, com certeza
vamos ter que resgatar que este século foi o século da luta feminista e da luta
pela emancipação das mulheres. Se formos fazer um balanço sobre quais as
características mais marcantes deste século, certamente o feminismo será uma
delas. É algo difícil para a gente falar, porque esta luta nós a temos feito
com a nossa própria vida, e talvez não tenhamos o afastamento necessário para
esta reflexão, mas, por outro lado, temos concretamente a condição de sujeito
de uma história. Concretamente, vivemos a oportunidade histórica de estarmos
revolucionando uma história milenar de opressão, porque - e alguns já citaram
isto antes, mas é importante que a gente resgate - a opressão da mulher é
universal e se perde na história. E temos registro de 10, 15 mil anos atrás,
onde as sociedades viviam de forma primitiva e lá existia uma condição de
igualdade, naquele primitivismo, naquela precariedade, onde as mulheres - por
serem mães e por gerarem a vida - tiveram uma condição social de maior
respaldo, de maior respeito. Mas de lá para cá, sabemos que as relações sociais
e o jeito que a sociedade optou por se desenvolver nos relegou a uma condição
de subalternidade, que em cada momento da história teve suas características,
mas que chega a nós de forma muito trágica, de forma muito dramática. Porque se
vivemos num século que é o século da tecnologia, da expansão das descobertas
humanas, das potencialidades humanas, de uma forma como a gente nunca projetou
antes, ao mesmo tempo, é o século da brutalidade, de termos um setor muito
significativo da população humana da Terra relegado desse desenvolvimento,
desses benefícios e dessas possibilidades e, certamente - os grupos feministas
têm denunciado muito bem -, as mulheres são a maioria dessa população,
excluídas do desenvolvimento e dos seus benefícios.
Então, cada vez mais se fala numa feminização da pobreza, e ela é real.
Se formos analisar dados do mundo inteiro, isso se explicita. Aqui, no Rio
Grande do Sul, na Região Metropolitana, há dados que nos chamam a atenção: o
desemprego feminino é maior que o masculino: as mulheres são chefes-de-família,
sustentam as suas famílias como nunca antes em um outro período da história; e
nós continuamos arcando com as desigualdades em relação às condições de
trabalho, porque nós vamos para o mercado de trabalho a partir da ótica de quem
é cidadão de segunda categoria, nosso salário continua sendo menor e temos
menos acesso às possibilidades de desenvolvimento do nosso trabalho.
Então, nós fizemos esse balanço vivendo, exercitando isso, e dentro de
toda essa possibilidade, de toda essa realidade que o movimento feminista
resgatou. É importante lembrarmos, no dia oito de março, que se nós estamos
aqui é porque muitas outras estiveram antes de nós, lutando em condições muito
mais adversas, com certeza. Hoje, nós temos um conjunto de leis, um conjunto de
espaços públicos e privados, inclusive, que nos amparam. Mas esses espaços
foram construídos nesse processo de luta, e isso é importante lembrar. É
importante lembrar, também, que o nosso rosto é múltiplo, plural, que somos
mulheres brancas, negras, como resgatou a Vera. Sonia Saraí, mulheres do campo,
da cidade, profissionais, que temos ou não escolarização, somos de vila, e
nessa complexidade toda, a condição da mulher, em qualquer um desses extratos,
é de subalternidade.
É importante que digamos, por exemplo, que em relação ao índice de
escolarização, as mulheres no Brasil são muito mais escolarizadas do que os
homens. Isso é interessante. Se formos analisar os cursos superiores, têm
crescido o acesso das mulheres às universidades, não se refletindo isso em
acesso às instâncias de poder, de mando e mesmo em postos de trabalho mais
significativos. De toda a forma se reproduz a nossa exclusão. A importância que
teve o balanço todo que o movimento feminista fez foi esse: resgatar a história
e ver que o motivo, a raiz da nossa exclusão não é pela nossa biologia, porque
somos mulheres, não é porque tenhamos uma essência feminina imutável, que
através da história sempre foi assim, mas é porque, historicamente, a nossa
opressão se reproduziu de várias formas, passando pelas bruxas, passando por
várias mulheres que foram executadas, alijadas, chegando em nós. E hoje se
revela, claramente, pelos dados, pelos debates, pelas vivências, pelas
denúncias, pelos órgãos que criamos, organizações governamentais, organizações
não-governamentais, movimentos de mulheres, movimentos do setor popular, a dura
realidade que a mulher ainda vive no nosso País.
É importante que tenhamos clareza de que a violência dessa condição de
subalternidade não se expressa só quando a mulher é espancada, estuprada,
morta. A violência é da natureza dessa condição de subalternidade, é o fato que
nós não somos sujeito.
Dizia nesta Casa, no outro mandato, quando se homenageava o Dia das
Mães, que é muito estranha a sensação de alguém que procura atribuir-se uma
condição de sujeito e dá de cara com uma sociedade que não lhe atribui e que,
por essência, lhe relega a uma condição de subalternidade. Esse é, sem dúvida,
um problema que a Filosofia deveria se debruçar. Acho que não se debruça porque
são poucas as mulheres que são filósofas, porque temos que trabalhar, fazer a
dupla jornada de trabalho, e não temos o ócio necessário à Filosofia. E quando
optamos por carreiras, optamos pelas mais práticas, ou, como dizia a Vera.
Clênia Maranhão, mais pela extensão do papel social a que a mulher tem sido relegada
e tem cumprido na sociedade. Com certeza é um problema filosófico, da nossa
natureza de sermos mulheres na sociedade, e a sociedade tem que responder a
isso. É necessário que continuemos com esse debate que o feminismo trouxe.
Não quero falar só da parte trágica da nossa existência. Ao longo dessa
caminhada temos conquistas, e a minha presença, e de sete Vereadoras nesta
Casa, certamente é a expressão disso. A nossa conquista é significativa. Temos
tido uma trajetória importante, coerente, de movimentos, articulando lutas.
Conquistamos mudanças significativas na Constituição Federal de 1988, que
abriram um leque de possibilidades, de mudança da condição da mulher no País.
Se não está efetivado é porque os governos de lá para cá não priorizaram. Mas seguimos
com nossa luta, com as nossas bandeiras. E nós conquistamos políticas em
relação à violência nessa busca de derrubarmos a impunidade; conquistamos
espaços no Executivo. E nós temos a presença na Mesa de uma Coordenadoria da
Mulher no Governo do Estado, de uma Assessoria da Mulher de uma Prefeitura, nós
temos a presença de diversas vereadoras do Município e de outros municípios.
Revela isso que nós estamos galgando espaços, construindo espaços para
desenvolver essas políticas e alargarmos nossas conquistas.
Eu quero entrar na polêmica da cota para dizer que a cota, sim, é
necessária. Eu não me sinto fruto da cota, porque eu sou uma militante muito
antiga, mas eu convivi com a dificuldade de as mulheres se manterem na
política. Eu entendo que a cota é um mecanismo fundamental de participação. Ela
não pode ser entendida como a nossa meta, porque a nossa meta é a igualdade, a
nossa meta é uma sociedade justa que não discrimine ninguém, mas certamente nós
só vamos chegar a isso com a participação efetiva das mulheres, porque não
vamos nos iludir, só a cota nos propicia.
Para terminar, eu queria fazer algumas citações de algumas mulheres que
nos antecederam. Várias mulheres foram citadas nesta tribuna e eu estava
pensando, quando uma delas foi citada, que o movimento feminista nos ensina que
a gente faz a história. E eu acho que esse foi o mérito de pensar que a gente
não é natureza, a gente não é essência, a gente é construção social, a gente é
construção humana e as nossas possibilidades são humanas e assim é que nós
temos nos transformado e transformado a sociedade. Eu queria fazer um resgate:
o dia oito de março foi uma proposta da Clara Zetti, uma militante do Partido
Social Democrata alemão; em um congresso, ela propôs que aquelas operárias
queimadas fossem homenageadas no dia oito de marco. E eu lembrei que ela era
companheira da Rosa Luxemburgo, que dizia nos seus escritos - teve o mérito de
dizer, foi uma mulher executada, Vera. Clênia Maranhão, pelas suas opiniões
políticas -, ela dizia que os indivíduos, os homens e as mulheres, são os
indivíduos que fazem a história, fazem em condições históricas, mas são eles
que a fazem. E eu acho que a demonstração que o Movimento Feminista deixou a
este século foi essa: as mulheres fizeram a história, as mulheres reescreveram,
como bem disse o Secretário Bisol na inauguração da 2ª Delegacia das Mulheres,
agora no dia oito, as mulheres reescreveram a história da humanidade neste
século, não a sua história simplesmente, a história da humanidade. Quando nós
fomos buscar lá, há dez mil anos, a origem da nossa opressão e viemos
reconstituindo a história e contando toda a história de novo a partir da nossa
ótica e a partir das relações de gênero, desvendando que existe, sim, esse
problema, como um problema estrutural, enraizado na nossa sociedade, e que é
necessário que ele seja visto, entendido e combatido pelas políticas públicas e
pelas ações políticas dos partidos, pelos movimentos sociais e de todos os
cidadãos e cidadãs de boa vontade.
Agradeço a tolerância do nosso Presidente, ao tempo concedido pela
Bancada do PSB, agradeço a todas as mulheres que fazem essa luta conosco e, ao
mesmo tempo, convido-as para que permaneçamos unidas e firmes, porque nós temos
ainda uma longa trajetória pela frente. Muito obrigada. (Palmas.)
(Não revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: Após as manifestações das
Vereadoras e Vereadores, tenho a satisfação de conceder a palavra, à
Desembargadora Maria Berenice Dias, Presidente da JUS Mulher.
A SRA. MARIA BERENICE DIAS: Sr. Presidente, eu gostaria
de pedir licença a V. Exa. e aos demais integrantes da Mesa para saudar, neste
momento, as Vereadoras, principalmente desta Casa, na figura desta mulher
combativa e incansável, que é a Vera. Clênia Maranhão, que propôs esta Sessão e
que vem norteando a luta das mulheres. (Palmas.) Então, na pessoa da Vera.
Clênia Maranhão, a minha homenagem às demais Vereadoras e a todas as mulheres
aqui presentes.
Eu não poderia recusar esse convite gentil que me fez o Ver. Nereu
D’Ávila, para me manifestar em nome do Poder Judiciário, porque o Movimento de
Mulheres está muito ligado à Justiça, e a data lembra um dia em que foi
cometido um bárbaro crime contra as mulheres, crime esse que se manteve impune
e , infelizmente, até hoje essa impunidade está muito marcada no Poder
Judiciário. Precisamos resgatar essa necessidade de tratamento igualitário. Por
isso me dedico a essas outras atividades paralelas, como a criação do JUS
Mulher, um atendimento jurídico e gratuito às mulheres vítimas da violência. Eu
convido a todos a participarem deste Projeto que está sendo lançado pelo JUS
Mulher, que se chama Projeto Lar, como sendo um lugar de afeto e respeito,
porque enquanto os sexos se intitularem como sexos opostos e não sexos
compostos, um complementando o outro, efetivamente não teremos o lar e
continuaremos com o que entendo ser a maior chaga da nossa sociedade, que é a
violência doméstica que acontece, principalmente, contra as mulheres. Parabéns
a todos pelo evento. E a luta continua, acho que hoje não é um dia de festa,
mas um dia de conscientização, de reflexão. Muito obrigada. (Palmas.)
(Não revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: Temos a satisfação de
conceder a palavra à última oradora, a representante do Sr. Governador do
Estado, Sra. Vânia Araújo Machado.
A SRA. VÂNIA ARAÚJO MACHADO: (Saúda os componentes da
Mesa e demais presentes.) Estamos no final desta Sessão Solene e gostaria de,
rapidamente, deixar um comunicado para as companheiras, para as mulheres e
homens, e, principalmente para as Vereadoras que fizeram uma demonstração,
através da proposta da Vera. Clênia Maranhão, de solidariedade e de colocar uma
questão fundamental na luta das mulheres, que é de buscar através dos
diferentes mecanismos a justiça e a punição de quem violou o direito das
mulheres, os direitos humanos. E deixo o recado enquanto Coordenadoria Estadual
da Mulher, que inaugura uma nova cara para este Rio Grande, para as mulheres do
Rio Grande do Sul, a possibilidade concreta de construirmos políticas públicas,
ações, por dentro de um governo democrático-popular que pretende dar uma nova
cara ao Rio Grande, e que pretende, como disse Olívio Dutra, dar uma cara
feminina, contemplando as necessidades e reivindicações das nossas mulheres.
Trago aqui como símbolo da nossa luta, a campanha e os dizeres do Movimento das
Mulheres Trabalhadoras Rurais que trouxeram ontem, num ato público, que diz:
“Não queremos favores; a nossa história a gente faz”.
Obrigada, e um abraço a todas as Vereadoras, continuamos juntas nesta
luta e certamente estaremos, daqui a alguns anos, avançando e conquistando mais
espaço nas políticas públicas para as mulheres. Obrigada. (Palmas.)
(Não revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: Finalizando esta Sessão, que
teve uma conotação especial com uma presença muito grande dos mais diversos
setores da sociedade, principalmente das mulheres de Porto Alegre, agradeço
também às Vereadoras do interior e representantes de diversos segmentos da
sociedade gaúcha.
Encerrando esta Sessão muito especial e expressiva para comemorar o Dia
Internacional da Mulher, convidamos a todos para, em pé, ouvirmos o Hino
Rio-grandense.
(Executa-se o Hino Rio-grandense.)
Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão Solene.
(Encerra-se a Sessão às 19h17min.)
* * * * *